Um espelho de tudo o que me vai pela cabeça

terça-feira, fevereiro 15, 2005

30 Minutos

Sentada espero. Vejo os rostos que passam marcados pela pressa do dia que começa. A luz forte e branca que só Lisboa tem torna as figuras nitidas, tão nitidas que lhes posso ler a alma. Espero. Enquanto espero a vida segue os seus passos sem me ver, escondida que estou nesta montra que cheira a café e se faz ouvir pelo tilintar da loiça. Vejo olhos gastos e tristes, perdidos entre as falhas da calçada, cabeças baixas derrotadas. Vejo o andar provocante e ostensivo de adolescentes a caminho da escola. Vejo o sorriso claro e luminoso de quem dá os primeiros passos seguro por uma mão protectora.

Espero. Enquanto espero o café arrefece ficando à temperatura ideal. Julgo-me esquecida e tenho saudades da cama quente que abandonei antes de estar preparada para o fazer. Penso e planeio o tempo que não posso esquecer. Escrevo hoje e vivo amanhã. Esqueço-me de mim ao ver-me nos olhos de estranhos.

E então chegou e eu bebo o café.

 
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