A decadência
Gosto da côr das fotografias, que transmitem uma atmosfera amarela, baça. Os vestidos fluidos e os cortes de cabelo. Os homens de calças à boca de sino. A pintura carregada, decadente à luz que lhe retira o brilho que porventura teria. Cresci rodeada por essas fotos que me contam um Mundo silencioso ao qual não pertenço. Oiço vozes distantes, já mortas, risos, vidas que já não o são. Sei as histórias de cada festa. O som de cada sorriso, imutável, imune ao tempo que passa e afasta o presente do momento em que a foto foi tirada.
Gosto de imaginar que vivi tudo isso. Que fui cidadã de um mundo em mudança. Em que se romperam estereótipos, leis e regras. Não acredito nos hippies, mas nessa sociedade verdadeiramente decadente, péssimista e cínica. Numa alta sociedade imune aos valores morais que já não ousa apregoar, nem impôr. Num Mundo de que Paris é o centro. Onde ser decadente é sinónimo de Saber. Onde se discute Sartre, Beauvoir. Onde se grita a poesia de Paul Élouard. Onde se alimenta o conhecimento estéril e se despreza o lado prático da Vida.
Gosto de acreditar que fui um desses seres eloquentes que deambularam assim, sem Norte, confrontando-se com um destino decadente, com uma luz baça, amarela, de Paris
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