Um espelho de tudo o que me vai pela cabeça

quinta-feira, novembro 03, 2005

Midfall night's dream

Eu estava morta. Mas estava lá, aborrecida. Não estava contrariada com a minha situação, só aborrecida por ter de ficar ali a assistir à missa. Confesso que várias vezes imaginei como seria quando eu morresse - o pessoal todo a chorar inconsolável, uma autêntica romaria de gente que não poderia viver sem mim. Mas ali não.

Estava tudo, simplesmente, aborrecido.

O padre debitava as banalidades que os padres debitam nestas alturas e eu lia nas mentes dos assistentes que estavam ali por obrigação. Por uma imposição social. Eu estava sentada no altar, mas ninguém me via, nem recebi qualquer indicação "superior" para não o fazer. Ia olhando para o relógio - sim, eu tinha relógio - e perguntava-me quando me viriam buscar. Agoniava-me o cheiro das flores - outra imposição social (também não percebia como é que eu, em espírito apenas, enjoava...).

Não veio ninguém buscar-me. Mas dei por mim junto ao que parecia um guiché de uma repartição pública. Uma senhora com uma mise que tresandava a laca, explicava-me, com alguma falta de paciência, que aquele não era o meu balcão. E eu dizia "ah e tal, deve haver algum engano, porque a minha Mãe e o meu Avô estão à minha espera". Então a senhora levantou-se e abriu uma porta que dava para um laboratório, onde estava a minha Mãe com uma bata branca. Então comecei a ficar um pouco à rasca, meio tímida, sem saber o que dizer. Ela levantou os olhos de um papel e disse "sim?". A senhora respondeu "tá aqui esta menina. diz que é sua filha". Ela olhou para mim e riu-se. " Não, a Joana está lá fora" e apontou para a janela.
Do lado de fora estava, de facto, alguém parecido comigo - com o cabelo mais curto, com umas jardineiras com riscas azuis e laranjas, de costas.

Já verdadeiramente nervosa tento dizer "não, Mãe, a Joana sou eu"... Então ela olhou para mim, com um olhar estranho e respondeu "não, a Joana está ali, ela veio connosco". Corri para a janela e tentei ver a cara da impostora. A senhora do guichet queria que eu saísse do laboratório. Eu bati com as mãos no vidro e chamei por ela (por mim?). E nada, a senhora puxava-me, ela desapareceu, eu gritava e batia no vidro.

Depois acordei, ainda agoniada com o cheiro das flores.

10 Comments:

Anonymous Anónimo said...

joaninha n és impostora. não há impostoras. eu faria parte da comunidade sem vida, desfeita, quebrada, arrasada se tu fosses.

pára com estes sonhos.

2:11 da tarde

 
Blogger Rodrigo said...

Hear hear, como diriam os meus amigos britânicos, ordem na barraca já! :-) Senão vou ter de te dar uma anestesia que tenho aqui muito fixe, já experimentei nos leões, e pela cara deles funciona às mil maravilhas! :-)

5:09 da tarde

 
Anonymous Anónimo said...

Não és impostora! e concordo com a ucha, a 1000%!
Vamos lá acordar, e deixar que esse "sonho" se funda nas nuvens!

Olha que a brigada Anti-coisas-dessas é phoda!

beijos

5:52 da tarde

 
Anonymous Anónimo said...

Tenho convites para ir ao teatro. Queres vir comigo? Vamos lá ver os verdadeiros impostores a entreterem-nos...

6:48 da tarde

 
Blogger Joana said...

Bora! Mas cuidado com os dentes... ;op

7:19 da tarde

 
Anonymous Anónimo said...

O problema é que falava a sério. Por ti, tiro a dentadura!

5:52 da tarde

 
Blogger Joana said...

"falava"??

Já não vamos ao teatro, é?

6:48 da tarde

 
Anonymous Anónimo said...

Vamos vamos...

12:46 da manhã

 
Anonymous Anónimo said...

queres combinar?

12:09 da manhã

 
Blogger O Puto said...

Este post não deveria ter comentários.

12:22 da tarde

 

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