Jones na DGRC
Pois é. Como os meus mui queridos leitores devem estar recordados, em Setembro fui roubada. Ora, desde então ainda não tinha movido uma palha que fosse para voltar a ser uma pessoa, um cidadão, documentada. Fui, porque antes de mais sou uma pessoa inteligente e informada, hoje tratar do assunto. Olvidei-me, por completo, da cruzada lesbiana que decorre por estes dias. Quando cheguei à DGRC deparei-me com uma série de câmaras. Ainda pensei que no último dia de clandestinidade tivesse sido apanhada e aquela gentinha histérica da TV (peço desculpa, eu sei que não são todos e até conheço quem trabalhe para a TV e seja um profissional altamente qualificado, mas apanhei uma equipa da TVI que, abençoados, eram um argumento a favor do fim da raça humana). Ainda temi que me viessem perguntar alguma coisa - ultimamente parece que tenho algum sucesso entre lésbicas e começo a interrogar-me se tenho ar de de quem prefere mulheres.
Enfim, adiante. Nada se faz neste país sem BI (bem, fazem-se algumas coisas, claro, que muita coisa aconteceu desde que fui roubada, mas não se faz nada de oficial). Mas já me começava a fazer espécie o estar sem carta de condução, sem cartão de contribuinte. Para não falar que, se me pedem o BI no Lux, não tenho como provar que já tenho mais de 18 anos. E lá fui. Com a inocência com que o Capuchinho Vermelho foi a casa da avózinha. No meu BI sempre vi escrito que era natural de Santa Justa - o que até faz sentido, uma vez que nasci numa clínica qualquer na Almirante Reis. Portanto, procurei no placard e fui para a 8ª Conservatória. Toda contente, quando cheguei ao 3º piso vi que nem tinha ninguém à frente. Tirei a senha e esperei. E esperei. E esperei. Esperei que a senhora chegasse (eram 9h15 e aquilo abre às 9h). Esperei que a senhora indagasse pelo bem-estar físico e emocional dos seus companheiros de trabalho. E esperei que a senhora encontrasse a sua caneta preferida ("toma esta, queres?", "não, gosto mais da outra e tenho a certeza de que a deixei aqui"). Quando se encontrou num estado zen e confortável a senhora lá se dignou a chamar-me. "Precisava da certidão de nascimento, para o BI". Lá lhe dei o nome e mês de nascimento. A senhora levanta-se da cadeira e lá vai à minha procura nos calhamaços. À terceira vez que ela me pergunta se nasci em Setembro (já começava a ter dúvidas sobre a minha própria data de nascimento), comecei a ficar preocupada. Lá me aparece ela, a dizer "ah e tal, não tenho o seu registo, deve estar na conservatória da sua residência". Lá disse que era de onde era, e ela mandou-me para a 6ª conservatória, no 5º piso. Cheguei lá e, claro, já não era a primeira. À minha frente estava um gajo, com ar de geek, a pedir a certidão dele. Deram-lhe. Depois pediu em Inglês. Que não, que isso não podiam, só nos consulados, mas que tinham um modelo que era aceite na UE. Mas é em Português? Sim, mas veja, tem uns sinaizinhos e aceitam em todo o lado. Ah, então quero um desses. E lá vai a mulher fazer a cópia e dá-la ao marmanjo (feio, que era pecado). Lá bazou. Lá fui eu (quero a certidão para o BI, moro em Santo Condestável). "Ah, a menina não é daqui. É da 6ª conservatória, no 5º piso. FUCK!
Lá fui eu. No corredor estava o geek à espera de elevador também. Quando o dito chegou, deixou-me entrar primeiro (devia ter desconfiado aí: no elevador segue-se a regra das escadas, senhores à frente). Também ele tinha de ir à 6ª Conservatória. Claro que a boa educação lhe passou logo (ou chegou logo...) e à saída do elevador, só faltou empurrar-me para sair primeiro. Quando chegou o sacana foi logo atendido. E começou a pedir coisas porque parece que vai casar com uma russa na Noruega (kiss, babe, keep it simple stupid!). Claro que a certa altura já estavam todos os funcionários da conservatória de roda dele e a Joana a espumar e a ver o raspanete que ia apanhar por chegar tarde ao escritório. Até que, uma senhora amorosa, me viu e me veio atender "escusa de ficar à espera que aquilo é complicado". Já estava quase com pena do geek, que até queria dar o seu nome à russa e para isso tinha que apresentar o equivalente à Bíblia em declarações oficiais.
Depois foram 5 minutos até me pôr no escritório.
Claro que, à laia de superstar, saí por uma porta lateral, discreta. Só para que não façam confusões.
2 Comments:
vamos la a repor a verdade: tu não te "esqueceste" que a cruzada lesbiana estava em plena apoteose no mundo sempre dinâmico e pra frentex das conservatórias do registo civil, foste foi induzida em erro por uma amiguita tua (fiuuu fiuuuu...)que na ânsia de finalmente (e passados quantos meses sem BI?... 5?) começares a mexer-te para voltares a ter existência no mundo burocrático deste país, te afiançou que "nááá...!! aquilo das lésbicas é lá para o norte! nao te preocupes!" isto enquanto conduzia c esgar alucinado pelo marquês de pombal (só tu para confiares em informações prestadas por uma pessoa nestas condições...)
e pronto! esta é a verdade!
quanto às lésbicas: estão cobertinhas de razão... nem o mais direitinha dos direitinhas entre os juristas deste país pode negar q o impedimento de casamento gay é totally inconstitucional....
*ucha*
12:14 da tarde
aiiiiiiiiiiiiiiiiiiii tu nasceste onde eu nasci!!!!!
eu estava lá na noite do assalto
:(
mas aconteceram coisas boas nessa noite.. ganhaste o teu título, lembras-te?
pois é pois é, sem identidade, pessoal, civil e fiscal, mas com um título Real!!!!
10:13 da tarde
Enviar um comentário
<< Home