Um espelho de tudo o que me vai pela cabeça

segunda-feira, julho 11, 2005

Saudade

A Infante Santo estava coberta de areia molhada como se uma onda tivesse acabado de passar. Ela e eu estávamos sózinhas. Ouvia-se o troar do mar e sentia o vento frio nos meus cabelos molhados. Sentia que não devia estar ali, mas estava hipnotizada a olhar para ela. Era tão real. Disse-me que fosse atrás dela, que fosse com ela. Olhei para baixo e não via o mar, mas sabia que ele estava lá e, pelo som, estava bravo. Ela percebeu que estava com medo. Riu-se provocante (daquela forma com que eu às vezes também provoco) e estendeu-me a mão. Estava quente em contraste com a minha que estava gelada. Aquela mão que é tão igual à minha. Apertei-a com força e foi como se me apertasse a mim, como se fosse de novo eu. Era tão real aquele toque, tão familiar. Com a outra mão, acariciou-me a cara naquele gesto infinito, ternurento, que era quase animal, instintivo, e de que sinto tanta falta.

Corremos rua abaixo de mão dada. Quando vi o mar, assustei-me um pouco, mas ela estava tão confiante. Apertei a mão com mais força e fechei os olhos. Senti a água fria e revolta e senti que o chão deixara de existir. Engolia água salgada e tinha areia a tapar-me os olhos e o nariz. Entrei em pânico quando senti que já não segurava a mão dela.

Então acordei, encharcada em suor e gelada. Com um frio que vinha de dentro e nem o calor que os primeiros raios de sol traziam ao quarto me aqueceram. Não voltei a adormecer. Não valia a pena.

 
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