The Swinging Blue Hand
Há momentos gestos que nos alertam para a nossa mortalidade. Alheamo-nos do tempo que passa e corroi e um dia acordamos e não reconhecemos o rosto que nos devolve o espelho. Hoje, dei-me conta de que tenho lembranças com, pelo menos 20 anos.
Hoje, caminhando em busca de notícias, subindo uma rua que me viu crescer, com o Tejo de olhos nas minhas costas, dei por mim atrás da Morte. Não lhe vi a cara, só o corpo magro e pequeno. O cabelo cinzento, desgrenhado. O cheiro fétido e pestilento. Mas o gesto que me hipnotizou, que me prendeu ao chão quente do asfalto, foi o baloiçar da mão. Uma mão azul e retorcida, com os dedos disformes dispostos de uma forma impossível. Era uma mão grande que não tinha a proporção do corpo que a fazia baloiçar. E baloiçava com uma cadência certa, eterna e imutável. Com o ritmo do Tempo que passava, que passou.
Aquela mão podia agarrar-me ali, naquele instante. Podia render-me de vez ao compasso dos segundos que ela marcava, sem sequer me ver. Voltei a pôr os headfones e disparei rua acima. Desta vez escapei. Mas sei que o tempo marcará a minha mão de azul. E um dia serei eu a marcar este ritmo mórbido que anuncia o fim.
2 Comments:
"mórbido", na origem, não quer dizer que não "suave"
10:05 da tarde
Larga os psico-trópicos, pá!
El Anónimo
7:27 da tarde
Enviar um comentário
<< Home