Um espelho de tudo o que me vai pela cabeça

domingo, junho 26, 2005

The Swinging Blue Hand

Há momentos gestos que nos alertam para a nossa mortalidade. Alheamo-nos do tempo que passa e corroi e um dia acordamos e não reconhecemos o rosto que nos devolve o espelho. Hoje, dei-me conta de que tenho lembranças com, pelo menos 20 anos.

Hoje, caminhando em busca de notícias, subindo uma rua que me viu crescer, com o Tejo de olhos nas minhas costas, dei por mim atrás da Morte. Não lhe vi a cara, só o corpo magro e pequeno. O cabelo cinzento, desgrenhado. O cheiro fétido e pestilento. Mas o gesto que me hipnotizou, que me prendeu ao chão quente do asfalto, foi o baloiçar da mão. Uma mão azul e retorcida, com os dedos disformes dispostos de uma forma impossível. Era uma mão grande que não tinha a proporção do corpo que a fazia baloiçar. E baloiçava com uma cadência certa, eterna e imutável. Com o ritmo do Tempo que passava, que passou.

Aquela mão podia agarrar-me ali, naquele instante. Podia render-me de vez ao compasso dos segundos que ela marcava, sem sequer me ver. Voltei a pôr os headfones e disparei rua acima. Desta vez escapei. Mas sei que o tempo marcará a minha mão de azul. E um dia serei eu a marcar este ritmo mórbido que anuncia o fim.

2 Comments:

Blogger MiM said...

"mórbido", na origem, não quer dizer que não "suave"

10:05 da tarde

 
Anonymous Anónimo said...

Larga os psico-trópicos, pá!

El Anónimo

7:27 da tarde

 

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