Um espelho de tudo o que me vai pela cabeça

segunda-feira, fevereiro 28, 2005

OPTIMISMO

Não sei se é do sol. Se é de ter estado com a minha Avó. Mas sei que não sei como tudo acaba bem. E é uma calma que nos inflama. Mais. Descobri que tenho menos tempo do que pensava. E tudo fez sentido. O optimismo que senti antes de saber, preparou-me para acreditar. Depois falei contigo. E de novo tudo se encaixou.

E voltei a acreditar que o fim vai ser feliz... Ou pelo menos para rir...

domingo, fevereiro 27, 2005

Um Serão Bem Passado

Gosto de sábados assim. Embalados pela chuva que ameaça cair. E de noite rir em conjunto com aqueles que adoramos. Rir de um filme cuja graça depende do "chá holandês" que bebemos. Rir de graças nossas. Rir da figura que fizemos no Carnaval. E no que de mais simples a vida pode oferecer, gozar a felicidade de uma boa companhia.

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Alta Fidelidade

Gosto do filme e gosto muito do livro. Gosto de saber que alguém é capaz de construir relações com coisas. Como discos. E livros. Gosto dos vinis (até como peça de design). Mas adoro sobretudo a relação que ele tem com os ditos. É que é igual à que tenho com os meus livros. Seguindo a forma como estão arrumados (ou não) é possível ter uma versão bastante apróximada do que tem passado pela minha cabeça nos últimos 25 anos.

Desde os livros do Bolinha que guardo religiosamente, até à Centelha da Vida, passando pelo Luki-Live e os livros do Adrian Mole.

Mas o melhor de tudo: o John Cusack. Desde a t-shirt Dickies aos tennis adidas, tá lindo...

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

A Tragédia

Acabei de (re)ler a Origem da Tragédia de Nietzsche. Descobri que tenho personalidade bi-polar. Há temporadas em que me sinto apolínea, racional, com uma vontade secreta de ser perfeita. Mas há temporadas em que sou verdadeiramente dionisíaca, em que quero esquecer o que é pensar, onde hajo por instinto, em que sinto os sentidos à flor da pele...E a fronteira entre estes dois estádios é tão ténue...

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

American Transcendentalism

Andei a pôr as leituras em dia. Adoro toda a filosofia transcendentalista americana. Faz-me lembrar "As Mulherzinhas" e tudo o que quis ser um dia. Aqueles que só me conheceram nos últimos dez anos (tou mesmo a ficar velha...), não se lembram da miúda tímida e calada que eu fui (JURO!). Nessa altura, abrir a boca à frente de estranhos era uma coisa capaz de me pôr em pânico.

Vivia aspirando ideais. Mas calada, imóvel.

Para quem não sabe, esta corrente nasceu e desenvolveu-se em Boston e em Concord (onde as Mulherzinhas viviam...), e defende que os ideais não devem cingir-se ao domínio das ideias, devem ser vividos. Devemos viver em harmonia com o que acreditamos. É uma linha de pensamento herdeira da de Schopenhauer, mas mais optimista...

E porque a vida é uma espiral, esta linha de pensamento voltou a estar presente. Não pela mão da Louise May Alcott (já passei essa fase, se isso é possível...), mas pela pena de Thoreau e Emerson. E mais uma vez tudo volta a fazer sentido. Duvido que volte alguma vez a ser uma miúda caladinha e bem-comportada. Mas o que sei é que precisava de umas respostas.... e encontrei-as.

Tudo gira, tudo muda. Somos apanhados nesta avalanche de tempo urgente, exigente. Somos novos, mas queremos mais. Queremos tudo. Agora. Já. Queremos saber e resolver o futuro. Queremos surpresas e aventuras. Queremos tudo resolvido, mas esta dúvida ferve-nos o sangue e faz-nos sentir vivos. O amanhã é uma incógnita e o passado está para sempre encerrado. Encurralados no dia de hoje a mente vagueia incerta do presente, passado e futuro. Queremos saber quem somos. Uma definição simples em 5 segundos. Mas queremos ser indefinidos, um mistério para sempre...

terça-feira, fevereiro 22, 2005

Hans Christian Andersen

Comemora-se este ano o bi-centenário do seu nascimento. Quem nunca se deliciou com as suas histórias perdeu o que de melhor a infância tem. Este escritor é mais um dos laços que me une à minha Avó paterna. Lembro-me de ela me ler as histórias com a sua voz rouca e alta, o seu timbre forte e doce. Sempre gostei muito do "Soldadinho de Chumbo". Sempre fui dada a dramas românticos. Muito antes de chorar baba e ranho com o Heathcliff e a Cathy da Emile Brontë, já me comovia com o triste fim do pequeno soldado e da bailarina. Há algo de mágico e real que se mistura na escrita do dinamarquês.

Quando a minha Avó achou que já era muito crescida para que me lessem histórias (nunca somos), ofereceu-me um livro do Adolfo Simões Müller chamado "O contador de histórias". Nesse livro, não só nos conta a história de Hans Christian Andersen, como nos deixa alguns dos seus contos. E assim descobri que a "Pequena Sereia" não fica com o príncipe e morre por não ser correspondida, e chorei com a "Vendedora de fósforos".

E descobri que a magia que me embalava na infância pode embalar-me para toda a vida. Mesmo sem o "...e foram felizes para sempre..."

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

O Melhor do Mundo...

Uns olhos curiosos sempre em busca de algo novo. Que nos vêem pela primeira vez e se surpreendem com o que o Mundo tem para oferecer. Um rosto perfeito de dimensões infímas, de uma beleza pura que se alimenta do amor que desperta. E as mãos tão pequenas que foram feitas para nos agarrar à vida.

Madalena

Madalena, o meu peito percebeu
Que o mar é uma gota
Comparado ao pranto meu

Fique certa,
Quando o nosso amor desperta
Logo o sol se desespera
E se esconde lá na serra

Madalena, o que é meu não se divide
Nem tão pouco se admite
Quem do nosso amor duvide

Até a lua se arrisca num palpite
Que o nosso amor existe
Forte ou fraco, alegre ou triste

Ivan Lins

domingo, fevereiro 20, 2005

Leituras de Fim-de-Semana III

Many go fishing all their lives without knowing that it is not fish they are after.

Henry David Thoreau

sábado, fevereiro 19, 2005

Leituras de Fim-de-Semana II

I went to the woods because I
wanted to live deliberately...
I wanted to live deep
and suck out all the marrow of life!
To put to rout all that was not life...
And not, when I came to die,
discover that I had not lived...

Henry David Thoreau

Leituras de Fim-de-Semana

A Dream

In visions of the dark night
I have dreamed of joy departed-
But a waking dream of life and light
Hath left me broken-hearted.


Ah! what is not a dream by day
To him whose eyes are cast
On things around him with a ray
Turned back upon the past?


That holy dream- that holy dream,
While all the world were chiding,
Hath cheered me as a lovely beam
A lonely spirit guiding.


What though that light, thro' storm and night,
So trembled from afar-
What could there be more purely bright
In Truth's day-star?


Edgar Allan Poe

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Aproveitando a leva...

Há dias marcados no calendário. É suposto lembrarem-nos de alguém. Se sempre nos lembramos desse alguém, não faz sentido marcar esse dia. Mas faz-me feliz saber que outros o marcaram. Faz-me feliz que outros se lembrem. Amanhã é um desses dias. E a Inês U. e a Rita, são as meninas que me puseram feliz. Obrigada...

Há dias assim, que não começam nem bem nem mal. Mas que parece que vão acabar mal. É um sentimento ruim que se vai instalando, desde o minuto em que acordamos. Então surge a esperança. Descobrir alguém no mesmo barco. Descobrir alguém que nos entende para lá das palavras, para lá do Mundo que nos separa. Obrigada, miúda de Tokyo...

morte lenta

Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não
conhece.
Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que
conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.

Pablo Neruda

Ventos de Mudança

Que me embaraçam o cabelo. Que me fazem ter medo. Num instante tudo muda e o que outrora foi, jamais voltará a ser. Mudam-se as estações e mudamos nós, estáticos, imóveis face à mudança.

Desde aqueles dias, em que o sol me tocava o rosto no banco do liceu, uma avalanche de tempo se passou. Era e sou a mesma, mas num contexto diferente. Era e sou outra.

E o sussurro deste vento, que não sei dizer se é quente, se é frio. O sussurro que me arrepia e me diz que não posso voltar atrás. E a voz ausente que me lembra que tudo acaba bem.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Conhecer-me a mim mesma

Nesta camapanha eleitoral aconteceu-me uma coisa estranha. Até hoje quando ia votar, apesar de fingir pensar imenso sobre o assunto, votava sempre quase numa de um-dó-li-tá. Não pensava muito sobre as ideologias ou propostas. Votar era quase uma questão afectiva. Gostava ou não gostava. Apetecia-me ou não me apetecia. Mais nada.

Ora desta vez, não sei se é da idade, pus-me a pensar a sério (sim, tenho tempo livre em excesso). Primeiro é a primeira vez que a minha irmã vai votar. Isto fez-me pensar que já tenho idade para votar a sério. Depois a minha irmã é partidária de tudo quanto é de direita (TUDO! menos o Santana, o que até é coerente). Tudo isto me fez pensar na construção da minha pessoa enquanto animal político.

Aqui começam os problemas. Descendo, por via materna, daquilo que de mais conservador e católico houve no nosso país. E, por via paterna, descendo também de uma série de gente defensora de ideais socialistas e ateus. Ganhar espaço para ter ideias próprias no seio da minha família é difícil. Mesmo na idade em que só queria ser do contra acabava sempre por encher de orgulho uma das partes. Como nunca consegui verdadeiramente ser do contra, no seio familiar, resolvi ser do contra em tudo o resto. Daí que os meus amigos de direita me achem de esquerda e os de esquerda vice-versa.

Acho que tenho um trauma. O facto de nunca me ter sentido uma combatente, no sentido de lutar contra os valores estabelecidos na família, fez de mim este ser sem convicção alguma que não seja ser do contra. De facto, faltou-me um passo importante na minha adolescência, que justifica esta minha atitude nos dias que correm...

Continuo sem saber em quem vou votar, nem porquê. Mas descobri que não sou mais que uma Mula Ideológia. Um hibrido. Que dá coices à esquerda e à direita, mas sem nunca saber muito bem porquê...

terça-feira, fevereiro 15, 2005

30 Minutos

Sentada espero. Vejo os rostos que passam marcados pela pressa do dia que começa. A luz forte e branca que só Lisboa tem torna as figuras nitidas, tão nitidas que lhes posso ler a alma. Espero. Enquanto espero a vida segue os seus passos sem me ver, escondida que estou nesta montra que cheira a café e se faz ouvir pelo tilintar da loiça. Vejo olhos gastos e tristes, perdidos entre as falhas da calçada, cabeças baixas derrotadas. Vejo o andar provocante e ostensivo de adolescentes a caminho da escola. Vejo o sorriso claro e luminoso de quem dá os primeiros passos seguro por uma mão protectora.

Espero. Enquanto espero o café arrefece ficando à temperatura ideal. Julgo-me esquecida e tenho saudades da cama quente que abandonei antes de estar preparada para o fazer. Penso e planeio o tempo que não posso esquecer. Escrevo hoje e vivo amanhã. Esqueço-me de mim ao ver-me nos olhos de estranhos.

E então chegou e eu bebo o café.

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

O menino levantou-se. Saiu da cama e abandonou os lençois gastos e encardidos. Aproximou-se da cómoda e olhou atentamente o seu reflexo no espelho. A luz da lua tornava o seu cabelo escuro um emaranhado sedoso e de prata. Descalço caminhou pelo corredor longo e sombrio, evitando e ranger das tábuas de madeira, deixando marcas dos seus pequenos pés impressas no pó. Desceu a escada larga coberta por uma passadeira puída que outrora fora vermelha. Não sentia frio nem medo. Seguia o seu instinto de menino. Atravessou a cozinha e abriu a porta que dava para o pequeno beco. O frio gelou-lhe o rosto rosado. Josué já esperava por ele. "Olá" disse o menino, com a sua voz cristalina. Todas as noites o mesmo ritual. O menino contava histórias para o mendigo dormir. O menino não tinha nada para dar além do doce conteúdo da sua alma.

Nessa noite foi diferente. Josué contou a sua história. A história de quem teve tudo e foi infeliz. A história de quem fugiu do mundo, fugiu da dor. Falou com uma voz baixa cheia de emoção. O menino não percebia a história, mas sabia que era importante ouvir. O menino sabia que se ficasse, Josué voltava a acreditar.

Quando o sol nasceu, já vinha tarde. O seu calor de nada servia os dois cadáveres. Josué acreditara enfim. E os dois dormiam um sono eterno.

domingo, fevereiro 06, 2005

W. H. AUDEN

I

Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He Is Dead,
Put crêpe bows round the white necks of the public
doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last for ever: I was wrong.

The stars are not wanted now: put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean and sweep up the wood.
For nothing now can ever come to any good.

II

O the valley in the summer where I and my John
Beside the deep river would walk on and on
While the flowers at our feet and the birds up above
Argued so sweetly on reciprocal love,
And I leaned on his shoulder; 'O Johnny, let's play':
But he frowned like thunder and he went away.

O that Friday near Christmas as I well recall
When we went to the Charity Matinee Ball,
The floor was so smooth and the band was so loud
And Johnny so handsome I felt so proud;
'Squeeze me tighter, dear Johnny, let's dance till it's day':
But he frowned like thunder and he went away.

Shall I ever forget at the Grand Opera
When music poured out of each wonderful star?
Diamonds and pearls they hung dazzling down
Over each silver and golden silk gown;
'O John I'm in heaven,' I whispered to say:
But he frowned like thunder and he went away.

O but he was fair as a garden in flower,
As slender and tall as the great Eiffel Tower,
When the waltz throbbed out on the long promenade
O his eyes and his smile they went straight to my heart;
'O marry me, Johnny, I'll love and obey':
But he frowned like thunder and he went away.

O last night I dreamed of you, Johnny, my lover,
You'd the sun on one arm and the moon on the other,
The sea it was blue and the grass it was green,
Every star rattled a round tambourine;
Ten thousand miles deep in a pit there I lay:
But you frowned like thunder and you went away.

Em Fevereiro sinto-me sempre um bocadinho assim...

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Espírito Livre

Joanne Harris descreveu-te assim. Livre como quem viaja ao ritmo do vento. Livre porque não te prendes nem te deixas tocar. Livre porque és insensível. Andas perto, tão perto de novo. Assustas-me, esvazias-me. Enches a minha vida de medo e tornas-me vigilante, desconfiada.

6 de Outubro de 2004

Era uma figura remota de um passado distante. Uma forma translúcida do meu imaginário real. Uma voz vazia de som, um gesto de um silêncio que se acabou. Hoje, no fim, está presente de novo, pela última vez. Relembro lembranças que não são minhas e sinto a perda dos que os estimaram. Oiço a história de uma vida que leve e brevemente tocou a minha. E esqueço.

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Coisas que nunca mudam...

she lies and says she's in love with him,
can't find a better man...
she dreams in color, she dreams in red,
can't find a better man...

Pearl Jam


terça-feira, fevereiro 01, 2005

Sophia

Eu chamei-te para ser

Eu chamei-te para ser a torre
Que viste um dia branca ao pé do mar.
Chamei-te para me perder nos teus caminhos.
Chamei-te para sonhar o que sonhaste.
Chamei-te para não ser eu:
Pedi-te que apagasses
A torre que eu fui a minha vida os sonhos que sonhei.

Sophia de Mello Breyner Andresen

 
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