Um espelho de tudo o que me vai pela cabeça

quinta-feira, abril 28, 2005

Foi numa manhã. O despertador tocou à hora do costume. Era o primeiro a acordar e deixou-se ficar uns segundos sentado na borda da cama a apreciar aquele silêncio que era só dele. No caminho para a casa de banho fez uma lista mental de tudo o que tinha para fazer nesse dia ligar ao Antunes, marcar almoço com os tipos do Porto... Mas foi no momento em que olhou para o espelho que tudo mudou. Surpreendeu-se com o estranho que o olhava. Receou-o. Deixou-se ficar estático, vazio, a olhar para aquele rosto até que este se tornou num amontoado de formas abstratas.

Então acordou e viu o Mundo. Suspirou aliviado e já não estava rodeado de azulejos brancos e sim de relva e árvores e rios. Ouvia apenas pássaros e respirava a frescura do orvalho da manhã. Correu livre para o sol que nascia, enterrou os dedos na terra húmida. Sentia-se parte de Deus. Lembrou-se do sonho e por momentos ficou sério. Lentamente aproximou-se de um pequeno regato, de água límpida. Quando olhou, sorriu. Era a sua imagem que lhe sorria de volta.

Às vezes ainda sonhava que estava preso num quarto de paredes brancas. Mas, de um modo geral, era um homem feliz.

quarta-feira, abril 27, 2005

Razão pela qual sou mais fútil do que pareço...

A ler isto a associação de ideias foi:

Portugal País dos Circulos :

Peter Sarsgaard levava uma trinca;

O Peter anda com a Maggie Gyllenhaal;

A Maggie é irmã do Jake;

O Jake levava uma trinca ainda maior.

terça-feira, abril 26, 2005

Convocatória On-Line

Apetece-me fazer um picnic. Desde que a gaja de Tókio escreveu que a Primavera de lá é um festival, que me apetece viver a sério a de cá... Que tal no sábado dia 30 no Jardim Botânico? Quem alinha?

(aceitam-se inscrições no blá blá blá)

A decadência

Gosto da côr das fotografias, que transmitem uma atmosfera amarela, baça. Os vestidos fluidos e os cortes de cabelo. Os homens de calças à boca de sino. A pintura carregada, decadente à luz que lhe retira o brilho que porventura teria. Cresci rodeada por essas fotos que me contam um Mundo silencioso ao qual não pertenço. Oiço vozes distantes, já mortas, risos, vidas que já não o são. Sei as histórias de cada festa. O som de cada sorriso, imutável, imune ao tempo que passa e afasta o presente do momento em que a foto foi tirada.

Gosto de imaginar que vivi tudo isso. Que fui cidadã de um mundo em mudança. Em que se romperam estereótipos, leis e regras. Não acredito nos hippies, mas nessa sociedade verdadeiramente decadente, péssimista e cínica. Numa alta sociedade imune aos valores morais que já não ousa apregoar, nem impôr. Num Mundo de que Paris é o centro. Onde ser decadente é sinónimo de Saber. Onde se discute Sartre, Beauvoir. Onde se grita a poesia de Paul Élouard. Onde se alimenta o conhecimento estéril e se despreza o lado prático da Vida.

Gosto de acreditar que fui um desses seres eloquentes que deambularam assim, sem Norte, confrontando-se com um destino decadente, com uma luz baça, amarela, de Paris

Quiz

1-Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?

A Menina do Mar, da Sophia de Mello Breyner, pela pureza e pela linguagem doce.

2- Já alguma vez ficaste perturbado por uma personagem de ficção?

Já. Desde o lobo mau, até ao personagem do "Perfume" do Patrick Süskind...

3- O último livro que compraste?

Melhor: o último livro que me veio parar às mãos: Contos de Eça de Queiroz...era do meu avô...

4- O último livro que leste?

Danças e Contradanças, um livro de contos da Joanne Harris

5- Que livros estás a ler?

"Viver não custa", (Des bleus à l'âme) de Françoise Sagan, estou a reler "A origem da tragédia" de Nietzche e o "Ah, descobri" do Martin Gardner, para manter a matemática em dia.

6- Seis livros que levarias para uma ilha deserta?

A Centelha da Vida, de Heinrich Maria Remarche
O Diário de Bridget Jones, de Helen Fielding, para não me esquecer de quem sou....
Terra de Neve, de Yasunari Kawabata
Antologia Poética, de Sophia de Mello Breyner
O Rei Lear, de Shakespeare, para me rir
O Manual do Escuteiro Mirin, para sair de lá....

7 – Três pessoas a quem vais passar este testemunho e porquê?
Ao Mundo...

quinta-feira, abril 21, 2005

São as hormonas, Senhor...

Imaginem uma pessoa mesmo gira. Tão gira que, para se refrearem, vocês têm de se concentrar MUITO, para lhe encontrar um defeito. Encontram. Concentram-se nele para anular qualquer tipo de atracção. E, do nada, a pessoa, por si, anula esse defeito.

Nunca fiquei assim por causa de um corte de cabelo...

quarta-feira, abril 20, 2005

Sentimento Strumpf II

Quando dou uma cabeçada nas portas de vidro da Barata, porque o sensor não deu por mim....

Sentimento Strumpf

Quando descubro que sou demasiado pequena para os sensores da casa-de-banho do meu local de trabalho darem por mim....

segunda-feira, abril 18, 2005

Um Marco...

A minha primeira publicação on-line, aqui...

Dilema

Se tivesse de admitir três grandes defeitos perante o Mundo seriam a minha clássica desorganização, o meu proverbial feitio do contra e a minha mui incómoda indecisão. Se cada dilema fosse um muro, eu seria aquele ovo da Alice no País das Maravilhas (para aqueles que não tiveram infância, o tipo vivia "em cima" do muro).

Confesso que os dois primeiros não me têm trazido grandes problemas. Pelo que considero que são os meus defeitos soft. Agora o terceiro... Posso mesmo dizer que é a causa de mais de metade das minhas insónias (síndrome de que padeço com alguma frequência...). Confesso que consigo sofrer com este defeito mais do que seria razoável. É que a angústia da escolha prolonga-se muito para lá do momento da decisão. Pior: quanto maior é a certeza no momento da escolha, maior é a angústia que se lhe segue.

Há uns meses atrás vivi um desses momentos. Refastelei-me em cima do muro durante quase seis meses. De repente, tive a certeza. Todos os sinais apontavam na mesma direcção. Sabia que se escolhesse jornalismo o Mito cairia numa questão de instantes. Sabia que se fosse para um jornal não seria feliz. Sabia que me faltava o bichinho.

Resolvi (como sempre, e talvez seja aí que está o erro...) seguir o que o sangue me ditava. Queria experimentar uma coisa nova. Uma área onte apenas a criatividade me podesse salvar. Acreditei que esta era a única das minhas características em que valia a pena apostar. Dois meses mais tarde, a dúvida vai-se instalando.

Fui claramente enganada. Não pelo destino, nem pelos sinais, mas por uma figura demasiado real para que a possa ignorar. De criativo, o meu trabalho de hoje não tem nada, nem nada terá em tempo algum. Ao mesmo tempo, há coisa de duas semanas que não param de me lembrar do que seria ser jornalista. E sinto que há uma parte de mim que reage a isso. Na sexta-feira soube que a única crítica que levei a sério, tinha outra interpretação.

Hoje, sinto-me um pouco encurralada. De novo, perdi as minhas certezas. De novo não sei o que quero. Sinto-me demasiado nova para ver qualquer situação como definitiva, mas demasiado velha para simplesmente deixar correr.

Vejo-me de novo presa, refastelada, no cimo do muro.

SMS from Tokyo

Fiquei com um sorriso enorme (o que, como toda a gente sabe, me põe os olhos em bico!).

sexta-feira, abril 15, 2005

É bom trabalhar...

... a ouvir isto (só é chato não poder cantar...)...

Secret heart come out and share it
This loneliness, few can bear it
Could it have something to do with
Admitting that you just can't go through it alone

Let her in on your secret heart

Feist, Secret Heart

Obrigada, Tiago!

quarta-feira, abril 13, 2005

Faz lembrar as últimas passagens de ano....

So much for the city
Tell me that you'll dance to the end
Just tell me that you'll dance to the end

Hey, hey you're the monkees
People said you monkeyed around
But nobody's listening now

Just don't go back to Big Sur
Hangin' around, lettin' your old man down
Just don't go back to Big Sur
Baby baby please don't go

So much for the street lights
They're never gonna guide you home
No they're never gonna guide you home

Down at the steam boat show,
All the kids start spittin'
I guess it didn't live up to the billing.

Just don't go back to Big Sur
Hangin' around, lettin' your old man down
Just don't go back to Big Sur
Baby baby please don't go

The Thrills, "Big Sur"

Música que canto aos berros...

... e me lembra uma tuga em Tókio...

Listen to the girl
As she takes on half the world
Moving up and so alive
In her honey dripping beehive
BeehiveIt's good, so good, it's so good
So good

Walking back to you
Is the hardest thing that
I can do
That I can do for you
For you

I'll be your plastic toy
I'll be your plastic toy
For you

Eating up the scum
Is the hardest thing for
Me to do

Just like honey

Jesus & Mary Chain, "Just like honey"

Gosto de Cantar...

...isto aos berros!!!!

In A Funny Way

On a summer day you can hear her call,
But in a funny way she reminds you of the fall,
On a summer day you can hear her call,
But in a funny way she reminds you of the fall,

Thru the fields an the streams an the lakes an the trees,
An the grass an the logs run all my dogs,
And I am home again

In the autumn air,You can see her smile,
But in a funny way she reminds you of a child,
In the autumn air,You feel her soul unfold,
And in a funny way you feel your own explode,

Thru the fields an the streams an the lakes an the trees,
An the grass an the logs run all my dogs,
And I am home again

Ahhhh Ahhhh
Ahhhh Ahhhh

On a winter day,You can hear her call,
But in a funny way when the snow begins to fall
On a winter day,You can hear her call,
And in a funny way,You love her even more

Thru the fields an the streams an the lakes an the trees,
An the grass an the logs run all my dogs,
And I am home again

Thru the fields an the streams an the lakes an the trees,
An the grass an the logs run all my dogs,
And I am home again

On a summer day you can hear her call,
But in a funny way she reminds you of the fall,
On a summer day you can hear her call,
But in a funny way she reminds you of the fall

Mercury Rev

E Cantarei Até que a Voz me Doa

Tenho o hábito de cantar no carro. Pior, tenho o hábito de fazer cantar quem quer que esteja comigo no carro - até uma vez, de táxi, pus uma taxista a cantar o bye bye miss american pie. É um dos sinais que estou bem disposta. Se não canto, ou a música que está na rádio é tão manhosa que estou de trombas, ou então estou de trombas com outra coisa qualquer.

Há qualquer coisa de hormonal em gritar (desafinada, sempre desafinada) uma qualquer música que toca na rádio.

Há qualquer coisa que nos faz sentir vivos quando atravessamos a Avenida de Berna, à noite, sózinha, apanhando os sinais todos verdes, a cantar Alive dos Pearl Jam.

terça-feira, abril 12, 2005

O Meu Mundo Perfeito

É um quarto cheio de luz. De paredes brancas, caiadas. Deitada na cama não vejo mais que o azul do céu. De olhos fechados sinto o cheiro do mar, o gosto do sal, o embalo das ondas. Não sou mais do que um grão de areia naquela praia vazia, tão cheia de conchas e búzios e pequenas pedras, que de tanto rolarem são perfeitas.

Gosto de atirar essas pedras de volta para a água fria e azul, contando os saltos que dão antes de se afundarem para sempre.

Gosto de me sentar numa rocha abandonada e deixar que as lágrimas me lavem o rosto. De deixar que as minhas tristezas salguem o Mar.

Gosto de caminhar feliz com o vento a despentear-me o cabelo molhado, sentindo a areia nos pés, no regresso ao quarto.

Quando o Universo Comunica...

... oiço isto quando estou no carro...

I think I'm gonna stay home
Have myself a home life
Sitting in the slow-mo
And listening to the daylight
I am not a nomad
I am not a rocket man
I was born a housecat
By the slight of my mother's hand

I think I'm gonna stay home

I want to live in the center of a circle
I want to live ON the side of a square
I used to be in my M-Z now
You'll never find me cause my name isn't there

Home life
Been holding out for the home life
My whole life

I want to see the end game
I want to learn her last name
Finish on a Friday
And sit in traffic on the highway
See, I refuse to believe
That my life's gonna be
Just some string of incompletes
Never to lead me to anything remotely close to a home life

Been holding out for the home life
My whole life

I can tell you this much
I will marry just once
And if it doesn't work out
Give her half of my stuff
It's fine with me
We said eternity
And I will go to my grave
With the life that I gave
Now just some melody line
On a radio wave
It dissipates
And soon evaporates
But home life doesn't change

I want to live in the center of a circle
I want to live on the side of a square
I'd love to walk where we both can talk but
I've got to leave you cause my ride is here

Home life
You TAKE the home life
You KEEP the home life
I'll come back for the home life
I promise

John Mayer, Homelife

Toda a Verdade sobre o Mundo II

Fathers be good to your daughters
Daughters will love like you do
Girls become lovers who turn into mothers
So mothers be good to your daughters, too

John Mayer, Daughters

Toda A Verdade sobre o Mundo

Ou pelo menos sobre mim...

but everybody thinks that everybody knows
about everybody else but nobody knows
anything about themselves
because they're all worried about everybody else

Jack Johnson, Wasting Time

segunda-feira, abril 11, 2005

A Queda de Um Mito

Sempre fui um mito. No sentido em que sempre me viram como algo muito melhor do que sou n realidade. É comum acharem-me muito mais inteligente do que sou na verdade. Também é um facto assente para o Mundo que serei bem sucedida. O problema é que algumas vezes me deixo cantagiar pelo mito. Não em relação à minha inteligência, descobri que me safo sempre melhor mantendo a certeza interior de que sou uma fraude para o exterior.

Mas em relação ao meu sucesso... Confesso que por vezes me deixo contagiar (mea culpa, mea culpa, mea culpa). Convenço-me que sim, a sorte vai estar do meu lado, que vou convencer o Mundo que sou muito mais do que na verdade sou. Mas a verdade é que, despida da minha proverbial sorte, não sou mais do que um ser humano medíocre com uns olhos de Bambi que vão abrindo algumas portas.

Hoje tive mais uma prova disso.

segunda-feira, abril 04, 2005

Quando S. Pedro tem ataques de esquizofrenia

Estou farta deste tempo. Ora chuva, ora sol, ora vá S. Pedro para um certo sítio (quando falo de S. Pedro desta maneira refiro-me única e exclusivamente à sua actuação enquanto regulador do tempo e nunca ao seu trabalho como Papa, nem levem a mal que fale desta maneira sobre o primeiro Santo Padre, dois dias depois da morte do último...).

Ontem andei a trepar aos armários a ir buscar algumas saias de Verão e hoje toma lá com uns chuviscos... Além de que, agora que fiz um up-grade do meu look, o meu cabelo está ainda mais sensível à humidade do ar...

Que chova lá para o Alentejo que é onde faz falta...

PS - Para aqueles que seguem por este blog os altos e baixos da minha saúde, informo que comecei hoje a tomar a terceira dose do reforço da vacina da gripe. Espero que desta esteja sem virús e afins até pelo menos ao Outono...

sexta-feira, abril 01, 2005

Coisas dos Tempos...

Este post é em resposta a este. Podia ter escrito lá (que raio, aquele blog também á meu....), mas assim mato dois coelhos de uma só cajadada, actualizo este e respondo àquele. É que o tempo agora escasseia. E todo e cada minuto tem de ser hiper-aproveitado (ai saudades de uma tarde no sofá...).

Também me lembro do que achava que a minha vida iria ser aos 25. Achava que ia ser adulta, responsável e que iria ter a vida resolvida. Embora esteja ainda a uns seis meses da data, isto de os meus amigos serem todos "mais velhos", tem muito que se lhe diga...

Pois é, dou comigo nesta idade sem côr, tipo terra de ninguém, sem nome. É uma fase recente, produto dos tempos em que vivemos. No tempo dos nossos pais esta era a idade de casar e ter filhos, de trabalhar e produzir (e, mal ou bem, foi aquilo que os nossos pais nos passaram como sendo suposto...), e já nem falo do tempo dos nossos avós...

E aqui estamos nós. Recém formados, ainda lutamos pelo primeiro emprego a sério. As casas estão caras e o crédito para a habitação também. No fundo, somos ainda adolescentes (basta ver as roupas, a música que ouvimos, o gosto pela noite), mas somos também adultos (já temos o cuidado de ir de táxi, em vez de guiarmos shóbriosh, êuxtouótimapalevarocarr...). Temos vontade de muita coisa. Temos também muitos sonhos. Mas provámos já um pouco da amargura que existe na realidade. Sonhamos mas tentamos não sonhar, para não nos desiludirmos. Ao mesmo tempo, temos saudades da ingenuidade com que viamos as coisas há uns anos atrás.

Acima de tudo procuramos encontrar o nosso eu, sem perder aquilo que somos. Queremos estar bem na nossa vida adulta, mas encontrar no espelho o adolescente que éramos. No meio desta confusão, sabe vem ver quem muda. sem mudar. Quem nos surpreende a cada dia pela constância, quando tudo o resto muda a uma velocidade alucinante. É isso que sinto quando olho para a Inês. Claro que a vida deu muitas voltas. Sei que a realidade de hoje não corresponde ao teu sonho de então. Mas tens a força de não mudar. E, acima de tudo,não nunca deixaste de sonhar... E devias estar muito orgulhosa por, aos 25 anos, seres já um exemplo (imagina aos 50!!!!).

 
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