Alive
Fechei os olhos e segurei o volante com força. Deu um frio na barriga. Quando abri os olhos tudo estava ok.
Saída da A5, chegada a Lisboa.
Um espelho de tudo o que me vai pela cabeça
Fechei os olhos e segurei o volante com força. Deu um frio na barriga. Quando abri os olhos tudo estava ok.
Des yeux qui font baiser les miens,
Sonhar duas vezes (na mesma noite) com o momento exacto em que a garganta seca, o mundo pára e a morte acontece...
Sempre senti uma certa atracção por fachadas brilhantes que escondem realidades sombrias. Tenho um certo fascinio por aquela moral vitoriana, espartilhada, que esconde as mais violentas aberrações.
(...)
Já gostava da versão dela, adorei o original dele...
Cantar (gritar) uma história de amor ao ritmo de Just the Girls, agarrada à malta toda...
Nem com um bordadito ainda fresco no pé me impediram de dançar (bem acompanhada, diga-se) tudo a que tinha direito. Ele foi valsa, foi Frank Sinatra, La Vie en Rose, e outras que já nem me lembro. Revolucionámos claramente aquela pista.
Pareceu uma eternidade. E ao mesmo tempo não foi mais do que um segundo. Comparado com uma vida, não passou de um nanossegundo. E no entanto bastou para mudar uma vida. Comigo é sempre assim. As grandes revoluções são rápidas. O que demora é adaptar-me a elas...
Enganei-me, esqueci-me que já era a minha vez. O Padre teve de me chamar: "onde está a madrinha que vai dizer umas palavras lindas?"...
Vou ficar com uma cicatriz no pé. Gosto bastante de cicatrizes. Não me confundam com o pessoal que se corta assim just because. Gosto de cicatrizes como gosto de rugas. São marcas de um momento, momentos que ficam tatuados para sempre (ou até à intervenção do cirurgião plástico). E assim não esqueço...
A um dia do evento temos um incêndio à porta da casa - onde se vai realizar o copo de água.
Faltam menos de 48 horas para fazer o meu primeiro discurso publico. Pela ocasião e pelos destinatários, não queria MESMO fazer asneira. Mas dada a ansiedade que sinto, calculo que não vá corre muito bem...
Ontem, at last, acabei de ver os últimos episódios dos Friends. Estas coisas sabem sempre a pouco, já se sabe, mas esperava um pouco mais dos últimos episódios desta série que devorei com alguma dose excessiva de fanatismo (coisa pouca...), nos últimos 6 meses.
Gosto de andar descalça, de sentir diferentes texturas nos pés. O chão frio da cozinha e o calor da madeira. Gosto de andar assim perdida entre paredes que conheço de cor e esticar um braço indolente para agarrar um livro qualquer na estante do meu quarto. Gosto de ver televisão, virada ao contrário, com as pernas na parede, esquecendo-me do mundo, esquecendo-me de pensar estando imersa em pensamentos. Gosto de ouvir a minha música, baixinho, com o nariz colado ao vidro frio e triste da janela, olhando os passos perdidos que oiço na rua agitada de Campo de Ourique. Gosto de ouvir música aos berros enquanto faço caretas ao espelho e seco o cabelo. Gosto de sair do banho e ficar eternamente de toalha enrolada enquanto as gotas se evaporam lentamente e deixo o cabelo escorrer fios de água pelas minhas costas. Gosto de chegar à noite e ter a minha cama à minha espera, com os lençois brancos e esticados que me devolvem o cheiro que trago tatuado na pele.
A alma colectiva de todos nós. A memória comum, o instinto. De sobrevivência e auto-destruição em simultâneo. O imprevisível do ser humano, o previsível em quem está ao nosso lado. Essa besta amiga que de quando em quando se liberta e nos liberta. Por vezes esquecemo-nos que somos todos animais. Por vezes esquecemo-nos que somos todos iguais.
Acredito que a realidade assenta sobre uma espécie de teias de aranha. Invisíveis, subtis, vão sustendo todo o peso do que acontece. Mas quando nos julgamos seguros, basta um sopro para tudo ruir.
Apetece-me escrever, mas não sei o quê...
Consta que volta e meia, quando bebo um ou outro copito a mais (coisa rara, diga-se), fico assim dada ao amuo. Sempre achei que, quando sóbria, era bem mais dada a estas coisas de quem nem sempre tem um feitio muito fácil (embora, confessem, a maior parte do tempo, até tenho bom feitio...). Há alguns registos de, quando contrariada, pura e simplesmente me ir embora.
DEMETRIUS
Sim, sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Para não pensarem que a vida são só desgraças:
Às vezes é como se estivesse ficado vazia. Não olho, não vejo o que se passa à minha volta. É como se ficasse só comigo. Sinto que me isolo vez mais do mundo, mantendo apenas uma fachada de um sorriso permanente. É como se soubesse que mais dia menos dia vou ficar só e preferisse começar já a habituar-me. Se não posso acorrentar aqueles de quem gosto a mim, prefiro matê-los tão longe quanto possível, para depois não sentir falta.
A Infante Santo estava coberta de areia molhada como se uma onda tivesse acabado de passar. Ela e eu estávamos sózinhas. Ouvia-se o troar do mar e sentia o vento frio nos meus cabelos molhados. Sentia que não devia estar ali, mas estava hipnotizada a olhar para ela. Era tão real. Disse-me que fosse atrás dela, que fosse com ela. Olhei para baixo e não via o mar, mas sabia que ele estava lá e, pelo som, estava bravo. Ela percebeu que estava com medo. Riu-se provocante (daquela forma com que eu às vezes também provoco) e estendeu-me a mão. Estava quente em contraste com a minha que estava gelada. Aquela mão que é tão igual à minha. Apertei-a com força e foi como se me apertasse a mim, como se fosse de novo eu. Era tão real aquele toque, tão familiar. Com a outra mão, acariciou-me a cara naquele gesto infinito, ternurento, que era quase animal, instintivo, e de que sinto tanta falta.
Era filho único e talvez por isso um pouco mimado. Um jovem inconsciente, mas batalhador. Sózinho, fez muitas vezes o serviço que atribuiam a um batalhão. Era um dos bons. Claro que, com alguma regularidade, diga-se em abono da verdade (que eu nunca fui apologista de idolatrar os que já não estão entre nós), perdeu-se no grande vácuo em que vivia. Mas regressou sempre a tempo de me dar apoio nos momentos mais difíceis. Se algum dia convenci o Mundo de que detinha uma grande colónia de neurónios, a ele tudo devo. Era um individualista, claro. Mas sempre se fascinou por aqueles que viviam em comunidade. Por causa dele sempre me aproximei dos mais inteligentes. Acho que ele também sempre quis a sua companhia. Nunca lhe pude dar um irmão. Mais por incapacidade do que por falta de vontade.
Resolvi ir ver o meu horóscopo para hoje:
Ontem, na Almedina aqui do Atrium, abri ao acaso um livro de Camilo Pessanha neste poema:
Hoje a fazer follow-ups com rádios regionais do Norte, acabei por ficar a ouvir a emissão de um programa...
Teste que respondo e este é mesmo só por vir de onde vem...
Descobri que sou uma mina de informações inúteis...
Há coisa de uns dias escrevi isto, num dos muitos caderninhos que não me abandonam:
Estava já atrasada para o trabalho. Esperava o Metro a ler o Metro (e vejo mal, pelo que franzia os olhos com certeza...), quando se aproxima um senhor de idade (velhote mesmo), com poucos cabelos e ainda menos dentes.
A pedido dele:
(re) Descobri o prazer de andar a pé pelas ruas de Lisboa há pouco mais de 15 dias. Primeiro foi uma questão de necessidade (é impossível estacionar o carro na 5 de Outubro e tinha de andar até ao metro...), mas agora é mesmo um prazer... Nada como sair o escritório e misturar-me nas ruas que me levam até Campo de Ourique. Já nem vou de metro (é ridículo, são só duas paragens...).
1 - A falta de paciência
Depois do sonho que me levou de novo para aquele tempo, de manhã percorri de novo aquela rua. Desci sozinha a calçada que costumava subir acompanhada. Pisei de novo as folhas mortas largadas pelas árvores que se escondem por detrás dos muros do cemitério. Passei junto à porta que foi minha e que hoje estava vazia. Senti o cheiro de um Tempo que já foi, que não volta, mas que vive ainda, em cada segundo de mim...