A M**** é...
... o que é que eu vou vestir?
Um espelho de tudo o que me vai pela cabeça
Sou a maior medricas à face da terra. Mas nem sob os efeitos da maior bebedeira à face da terra o vou admitir.
Ok. Talvez saiba porque é que não durmo, mas não o queira admitir às entidades competentes.
Estava cinzenta. sentia-me cansada, exausta, farta do mundo. Saí e estava nevoeiro, como se o mundo também estivesse farto de mim. E, perante a hipótese de o estar a chatear, fiquei logo mais animada.
Acordar no sábado, meia ressacada, a ouvir o Nessum Dorma aos gritos no andar de cima. Quiase que chorei. Por momentos achei que tinha morrido.
Ontem às 06h30 da manhã ainda tinha os olhos abertos, qual indígena digna de figurar nos primeiros capítulos dos "Cem anos de solidão". Senti, literalmente, o último sopro de vida do Vanderlei a abandonar-me e mergulhei na loucura fronteiriça entre a realidade e os sonhos. Calculo que tenha dormido, mas quase nada. Tinha tanta coisa na cabeça, que a certa altura as coisas se anulavam entre si e os pensamentos corriam mais céleres que a luz. Tantas escolhas, tantas decisões, tantas constatações surgem assim. Naquele estádio em que o medo é o nada envolto em sono e a lógica desaparece, as coisas vão fazendo sentido. Tomei algumas das mais importantes decisões da minha vida em momentos assim. Numa dimensão que não é real nem o deixa de ser. Num estado de exaustão mental suprema, procuro apenas o facilistismo. Tudo aquilo que usualmente ignoro no meu dia-a-dia, torna-se claro como água e simples, tão simples. Quando a vontade deixa de argumentar, só a lógica silogística sobrevive, fria, matemática, objectiva. E é tudo tão mais simples assim. Preto no branco. Sem espaço para sentimentalismos, nem sonhos, porque se fosse para sonhar dormia. E o corpo dorido chama pelo descanso que não vem, que me é negado por essa força estranha que repele as minhas vontades. E afinal o que é a vontade se não aquilo que nos prende? Esta noite, sem dormir, mas longe de estar acordada, chegaram mais algumas respostas. Óbvias para todos, imagino. Mas novas e com o cheiro da novidade para mim. Instalaram-se e com o sono que sinto vão resistindo. Pergunto-me por quanto tempo. Mas não importa.
É verdade que sou um pouco torta. Mais do que deixo adivinhar no meu aparente bom humor. Quando me magoam (a sério) remeto-me a um silêncio distante, quase cordial. Depois vem a censura. Censuram-me pelo silêncio, pela distância. E os gritos tornam-se um ruído absurdo vazio de palavras. E nunca, nunca, me perguntam o que se passa. Eu também nunca respondo. E depois dói e para não doer mais uso aquilo em que sou melhor. Ponho uma carapaça de indiferença que se insinua e cresce até se tornar real. E então fica o nada, o vazio. E fico surda, indiferente aos gritos até que as vozes se calam. E continuo, aparentemente imune, mas conscientemente mais só.
É a história de um homem que prefere os ursos aos homens. Não, não se trata apenas de um ambientalista. É, provavelmente, mais um inadaptado. O que mais gostei no filme foi a abordagem do realizador. Não quis exacerbar o herói, nem destruir o mito. Quis conhecer o homem.
Às vezes, sobretudo quando estou muito cansada, dou comigo a pensar em tudo o que mudou. Houve muita coisa que aconteceu à margem da minha vontade. Mas cheguei à conclusão que o principal dependeu de mim. Não foram escolhas ponderadas, nem, na maioria dos casos, racionais (a razão manda uma coisa e eu faço quase sempre outra), mas foram escolhas minhas.
De um mail (mantive o formato, por preguiça)
É raro ficar com um nó na garganta e a pele arrepiada quando oiço música (acontece-me mais quando estou a ler). Mas com a faixa três do ( ), fico assim. E lembro-me de uma altura não tão boa, de pensamentos estranhos, de refúgios de última hora, de um concerto que me deixou de lágrimas nos olhos e onde umas miúdas dançavam tão bem, lembro-me de uma estrada em Sintra, de dançar twist num sótão de alguém que agora está em Leicester.
Quando vejo televisão costumo ir mandando bitaites sobre o que quer que seja que estou a ver. Não o faço esperando resposta (é uma coisa que acontece quando estou sozinha também). A minha irmã - que de vez em quando tem mesmo muita graça - costuma dizer que, nessas alturas, a Dona Alice desce sobre mim, numa alusão a toda a dona de casa que assiste à televisão usando touca de rede e rolos e que manda precisamente os mesmos bitaites que eu:
Quando pedi aos meus amigos que me descrevessem em 5 objectivos, frisei que queria qualidades e defeitos. Estou farta de me rir e enternecer com algumas respostas. Claro que houve algumas que não pude pôr nos powerpoints para a empresa, mas, e para que não pensem que ficaram de parte, deixo aqui TODAS as respostas (mesmo aquelas com que não concordo).
Parece-me claro que as gentes decidiram que a filosofia não é para quem trabalha. Amanhã, o instituto franco-português dedica o seu dia a Foucault e à análise da sua obra, nomeadamente, no que diz respeito às ideias do filósofo sobre segurança e sociedade. Sempre achei interessante a forma como Foucault concebia as prisões. Gostava de ir às conferências. Mas elas decorrem em horário laboral. E o mais irónico é que, parece-me, o trabalho não deixa de ser uma forma de prisão.
But the people are living far away from the place........
Does the body rule the mind
Gosto de fins-de-semana assim (odeio os traços desta palavra, grrrrrr....). Chove a potes, a água vai lavando as ruas. Eu, em casa, no quentinho, vou descansando (re)organizando a minha cabeça. Leio autores há muito esquecidos no monte da minha mesa de cabeceira - é tão fácil esquecer-me do sítio onde encontrar respostas. Escrevo, em cadernos há muito fechados, leio textos há tanto tempo esquecidos, choro e rio-me como quem vê pela primeira vez um filme de que é protagonista. E sinto-me crescer mais um bocadinho. A aprender um pouco mais sobre mim mesma. Num exercício egocêntrico que me faz bem.
Quinta-feira a minha empresa terá uma acção de team building. A dada altura é suposto fazermos uma apresentação da nossa pessoa. Comecei a fazer os powerpoints de apoio e, como não sabia muito bem o que fazer, enviei um mail a pedir auxílio a alguns dos meus amigos.
Hoje perguntaram-me como é que era possível continuar a entusiasmar-me com "tantas coisas". Disseram-me isto em tom de crítica.
Fui hoje almoçar a um pequeno restaurante (mais do tipo de um daqueles snacks que surgem em zonas de escritórios), aparentemente normal. Superfícies espelhadas, cadeiras de metal brilhante com almofadas de couro beige. O menu apresentava também as banalidades que estes sítios costumam oferecer. Entrámos, escolhemos mesa e sentámo-nos. Foi de repente que ele surgiu do nada. O Sr. Luís.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Acordo de noite subitamente.
Poucas coisas me irritam como este termo. Sentimentos contraditórios. Tão depressa o adoro, como me irrita solenemente. É o termo, o conjunto e nunca o seu conteúdo. Esse é fantástico, claro. Mas por ele choramos e rimos que nem umas perdidas, que deve haver muito sangue italiano aqui misturado - gritos sempre gritos, naquele limiar da histeria saudável.
Acabo de constatar que eté gosto de ouvir a Tina Turner cantar. Lembra-me uma altura - tinha uns 10-12 anos - em que já não era criança, mas também ainda não era mais que isso. Sentia-me constantemente a mais feia, desenquadrada, desconfortável num corpo que mudava de hora a hora. Lembro-me que não fui ao concerto da Tina porque ainda era nova (os meus pais foram...), mas que me sentia demasiado grande para ainda brincar com bonecas - ainda brincava e bastante.
Este comunicado da direcção de blogs da Joana, destina-se a todos aqueles que, na sequência da leitura de alguns posts neste blog e do meu recentemente revelado "Para lá do Mundo", resolveram achar que sou uma pessoa deprimida ou triste.
Adoro poder dizer coisas destas e aparecer gente a desmentir-me...
Ninguém gosta de ouvir a verdade. Mesmo quando a verdade é óbvia e clara para todos, dizê-la, torná-la tão real que passa a caber em palavras, deixa-me sempre encabulada.
...dei comigo a dançar meio valsa, meio salsa, meio tango com um rapaz que insistentemente dizia que era "linda" e que cheirava "lindamente".
Foi da luz. Branca e difusa. Numa corrente intermitente de azuis, amarelos e magentas. Não havia som. Era no silêncio que os minutos se moviam lentamente em direcção ao tempo infinito que não tínhamos. Os gestos eram confusos, nervosos, os teus olhos grandes, quase tão escuros como os meus, mas tinham um brilho verde que me hipnotizava. Falavas e tentava ler nos teus lábios palavras que não queria, que não sabia ouvir. Lembro-me de tentar sorrir e os músculos tremerem com o esforço. Apenas consegui um esgar estranho onde leste o que sentia. Foi um segundo. Menos talvez.
Deixava eu um comentário aqui sobre o meu vício em dizer "tipo", quando me lembrei de que eu, quando abro a boca "ou entra mosca ou sai tipo".
Passamos a vida obcecados com aquilo que os outros pensam de nós. E construímos a nossa maneira de ser um função do juízo que acreditamos que os outros fazem. Assim, muitos de nós perdem a espontaneidade. Na blogosfera isso é bastante visível. Há pessoas que usam os blogs como forma de autopromoção, tendo em vista determinados objectivos; há também os que usam os blogs para mostrarem aquilo que lhes vai na cabeça e que por norma guardam para si; há os que os usam para dizer aquilo que, por timidez ou qualquer outra razão não dizem, etc, e como tal tendem a mostrar uma imagem pensada e aperfeiçoada de si mesmos.
Eu bem digo que São Jorge com os corvos ainda vai dar asneira...
Depois do Carpe Diem da Efémera, a nossa juventude sempre corajosa e coerente decidiu não sair de casa por causa da violência dos imigrantes e da gripe das aves.
O mail da convocatória, o lanche ou o jantar, catering nosso ou contratado, os contínuos, as instalações, a lista de convidados, quem convida quem, só os finalistas de 98 ou todos os que eram amigos, será que vão gostar da ideia, será que nos lembramos de todos, fazemos crachás com os nomes, será que nos lembramos dos nomes, será que fazemos os crachás com as alcunhas, mas havia alcunhas que eram só nossas, será que estão muito diferentes, será que já estão casados, será que já têm filhos, onde é que estão a trabalhar, será que me vão reconhecer, será que se lembram de mim, será que me vão achar velha e acabada (tenho andado desesperada à procura de rugas na cara), já entrei em abstinência calórica associada a contagem decrescente para o evento, há tanta gente que quero ver, há gente que não me apetece ver, não sou nada do que planeei ser, será que alguém é?, vai ser estranho ver outra vez pessoas que dantes via todos os dias, vai ser bom ver pessoas que via todos os dias, será que ainda jogam matrecos, eu ainda jogo. Acima de tudo, mais importante, mais stressante, mais enervante, a pergunta que se impõe, que me atormenta:
...já diziam no Nemo...
Depois da animada excursão a Meca dos meus fãs muçulmanos, chega agora a vez dos católicos. Vieram todos a Lisboa para o Congresso da Nova Evangelização e estão alojados no meu corpo. Estes estão em verdadeiro transe por a minha cidade passar a ser patrocinada por Nossa Senhora de Fátima e têm estado concentrados em retiro algures entre a minha garganta e nariz. A afluência tem sido tanta que até o ouvido está entupido. Com tanta fé, os milagres acontecem, e os meus sinos nazais, não tocam, mas incham e doem.
Cravo as unhas na pele das mãos, tentando ferir-me achando conforto e prazer nesta dor preversa. Não quero chorar. Não posso chorar. Seria ridículo.
... que ele não se matou por lamentar não ter conhecido o amor. Suicidou-se porque desistiu de conhecer o amor...
Gosto de almoçar no Go Natural. Estou viciada no iogurte de maçã com canela e as sopas são sempre óptimas.
Sábado: há poucas coisas melhores do que passar o dia na galhofa com pessoas que adoramos e conhecemos de gingeira: sempre a rir, com muitos gestos à mistura. Poucas ressacas sabem tão bem como aquelas em que saltamos da cama em dois segundos para ir para um almoço que se prolonga pela tarde toda.
Ontem, tomava café com um amigo no Café di Roma de Campo de Ourique, quando um senhor, já de provecta idade vai de encontro à porta de vidro do referido estabelecimento. O engraçado é que vi tudo e consegui antecipar aquilo que ia acontecer. Ele vinha devagar, não tanto por causa da idade, mas sobretudo porque pareceu-me estar ligeiramente tocado. E fiquei sempre à espera que no último instante ele conseguisse travar, que ele visse o vidro. Isto foi tudo quase em câmara lenta, daí que me foi possível ver o nariz do senhor contorcer-se contra o vidro e a cabeçada do senhor na porta.
É verdade que sou egocêntrica. Que tenho o meu mundo, as minhas coisas e o resto não me interessa absolutamente nada. Tudo o que esteja para lá das fronteiras da esfera da minha existência é, para mim, totalmente irrelevante. Não que não me interesse por coisas que se passam do outro lado do mundo, mas apenas como suporte para exercitar o meu raciocínio, emitir opiniões e (esta é, sem dúvida, a minha parte favorita) discutir apaixonadamente esses mesmos assuntos. Acho divertido ouvir histórias sobre outras pessoas e ir, lentamente, construindo uma opinião sobre elas. Adoro a construção de retratos psicológicos e estou-me absolutamente nas tintas se eles correspondem à realidade ou não. Sei que acerto muitas vezes, sei que consigo dizer aquilo que a maioria gosta de ouvir - a palavra amiga, a crítica construtiva, o conselho útil. Preocupo-me muito com isso? Não. É apenas mais um exercício que me diverte, que me afaga o ego, que me faz, momentaneamente, sentir melhor como pessoa - obviamente aqui melhor, não é no sentido ético, mas no sentido de farsante, tipo mais esperta que os outros. E que me rende alguns elogios - ah e tal és uma boa amiga, etc.
Ontem, antes de dormir, estive a ver episódios de Friends. Num deles a Monica contava que tinha visto o bêbedo vomitar e um pombo a comer o vomitado.
Estou farta de ler blogs a louvarem a filosofia da efémera, o bichinho da Vodafone. Ah e tal, assim é que deviamos viver a vida, só diversão...
Aos que fritaram com o post abaixo:
Eu estava morta. Mas estava lá, aborrecida. Não estava contrariada com a minha situação, só aborrecida por ter de ficar ali a assistir à missa. Confesso que várias vezes imaginei como seria quando eu morresse - o pessoal todo a chorar inconsolável, uma autêntica romaria de gente que não poderia viver sem mim. Mas ali não.
Tive um pesadelo e não conseguia voltar a dormir. Resolvi ler. Tirei ao acaso um dos livros que tenho empilhados na mesa de cabeceira. Calhou ser um livro sobre paradoxos matemáticos - adoro paradoxos de uma forma geral, são a parte cinzenta da vida, nem oito, nem oitenta e não há lógica em contrário....